Vida de Solteira

“E o namorado?” Alguém me vai perguntar. Aí vou sorrir e responder: “Estou solteira!”. Sabem, realmente não entendo essas pessoas que colocam o facto de encontrarem uma pessoa como sendo um dos objetivos primordiais da vida. Como se a ordem natural fosse: nascer, crescer, conhecer alguém e morrer. A meu ver, não é assim. As pessoas se dizem solteiras como quem diz que está com uma doença grave, alguém que precise de ajuda. Não é nada disso. Existe sim vida na “solteridão”! E das boas. E isso não quer dizer farra, putaria, poligamia ou promiscuidade. Aliás, quer dizer sim, mas só quando tu tiveres afim. No mais quer dizer liberdade, paz de espírito, intensidade. E olha que escrevo isso com algum conhecimento de causa, que tenho vários anos de namoro no currículo. De verdade, do fundo do coração, eu estou muito bem solteira. Acho até melhor que antes. Gosto de acordar pela manhã sem saber como vai terminar meu dia. Gosto da sensação do inesperado, da falta de rotina e de não ter que dar satisfação. De conhecer gente nova todos os dias. De não ter que fazer nada por obrigação. De viver sem angústia, sem ciúme, sem desconfiança. De viver.  Acredito que todo mundo precisa passar por essa fase na vida. Intensamente inclusive. O que percebo são pessoas abraçando os seus relacionamentos como quem segura uma bóia num naufrágio. Como se aquela fosse sua última chance de sobrevivência. Eu não quero uma vida assim. Nessa altura talvez tu me queiras perguntar: “Mas e aí? Vais ficar solteira para sempre? Vai ser assim até quando?” E eu vou te responder com a maior naturalidade do mundo: “Vai ser assim até quando eu quiser”. Quando encontrar alguém que seja maior que tudo isso, ou talvez alguém que me consiga acompanhar. Quando se gosta da vida que se leva, tu não mudas, por qualquer coisa. Então para mim só faz sentido estar com alguém que me faça ainda mais feliz do que já sou, e como sei que isso é bem difícil, tenho certeza que o que chegar será bem especial. E se não vier também está tudo bem sabem? Eu realmente não acho que isso seja um objetivo de vida. Não farei como muitos que se deixam levar pela pressão dessa sociedade. Tanta gente namorando pra dizer que namora, casando pra não se sentir encalhado, abdicando da felicidade por um status social. Aí depois vem a traição, vem o divórcio, a frustração e todo o resto tão comum por aí. Não, não. Deixem-me aqui quietinha com a minha vida espetacular. Pra ser totalmente sincera com vocês, a verdade é que não é sua situação conjugal que te faz feliz ou triste. Conheço casais extremamente felizes e outros que estão há anos fingindo que dão certo. Conheço gente solteira que tem a vida que pedi para Deus e outros desesperados. A verdade é que só tu mesma podes preencher o teu vazio, e colocar essa missão nas mãos de outra pessoa é pedir pra seres infeliz. Conheço sim vários casais incríveis, assim como tantos outros que não vêm que estão a sofrer. Só peço que não deixem que o medo da solidão faça com que a tristeza pareça algo suportável. Viver sozinho no início pode parecer desesperador, mas de tanto nadar contra a maré, um dia tu aprendes a surfar.

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